sábado, 3 de abril de 2010

Perceber o Outro

Algumas das nossas características se destacam e nos identificam diante daqueles que nos cercam.
Se somos mais falantes ou mais calados.
Mais intensos ou mais contidos.
Se arriscamos mais ou menos. Se gostamos mais das cores ou não abrimos mão do sóbrio preto-e-branco.
Mais amigáveis, mais calmos, mais agitados, menos sociáveis. Mais solícitos, mais esquivados, mais observadores ou mais opinativos...
Mas na verdade, PERCEBER O OUTRO, vai muito além de identificar seus gestos, seus gostos ou suas qualidades físicas.
PERCEPÇÃO requer SENSIBILIDADE!
E quando nos tornamos sensíveis para perceber o outro, entramos numa sintonia que transforma a simples convivência em uma experiência única e edificante para todos.
Abrimo-nos para sensações mais apuradas, que compreendem além de nós mesmos. Compreendem o outro.
Nas suas diferenças, nas suas peculiaridades, nas suas esquisitices, nas suas manias.
Nos seus gestos que a uns fazem sentir bem enquanto a outros surpreendem em certos momentos.
Nas suas palavras... Que a uns alegram e fazem rir enquanto a outros podem soar como critica, mas que acabam fazendo repensar, crescer, amadurecer.
E assim nos tornamos mais próximos, mais cooperativos, mais tolerantes e mais bem sucedidos nas nossas investidas em conjunto.
Acontece certa matemática cósmica.
Somamos as forças, porque unidos somos mais fortes.
Multiplicamos felicidade, por que a felicidade de um gera felicidade nos demais.
Subtraímos as diferenças, por que à medida que nos compreendemos melhor ficamos cada vez mais parecidos, mais próximos.
Dividimos as dificuldades -por que assim carregar esses pesos fica menos doloroso, quando cada um carrega um pedacinho- e as alegrias, por que alegria de verdade a gente nem consegue guardar só pra gente!
SENSIBILIDADE PARA PERCEBER O OUTRO. Taí uma boa habilidade para buscarmos dia após dia!

(Perceber o Outro - WallaceLemos)

domingo, 29 de novembro de 2009

Chão



 
Minhas incertezas... Não sei onde estão hoje.
Nem o que você fez com elas.
Minhas dúvidas mais intensas...
Dissolveram-se nas tuas respostas confusas.

Meus traumas de infância...
Minhas neuroses...
Minhas paranóias pessoais...
Fugiram ante a tua certeza louca das coisas.

Minhas convicções...
Abalaram-se todas!
E meus preceitos incontestáveis se renderam
À tua inconseqüente vontade de viver.

Meu desespero... No teu olhar
Vira calma.
E meus medos... Assustam-se.
E se vão... Um a um.

Descobri que minha solidão
Já não existe.
Você veio...
Para deixá-la só.

Encontro-me...
Onde antes só me perdia fingindo me achar.
Mas também me perco...
Por pura escolha,
Nos teus labirintos secretos.

Rio-me e choro-me...
Mergulho nas águas correntes
Desse rio de emoções desconexas
E perfeitamente inexplicáveis.

Afogo-me de propósito...
E deixo-me salvar depois.
Pra experimentar o reviver
Ao ouvir tua voz de ânimo.

E assim revivo.
E vivo...
E vou vivendo.

(Chão - WallaceLemos)



terça-feira, 3 de novembro de 2009

Haverá Dia


Certamente haverá dia.
Mesmo após a longa espera haverá dia.
Afinal, sempre foi assim.
Então durma.
Repousa tua cabeça quente,
Teu corpo cansado,
Teu coração temeroso.
Mesmo com a escuridão lá fora...
(ou aí dentro).
Sossega tua alma na certeza...
De que, logo cedo, os raios de vida
Certamente insistirão em invadir cada fresta,
Cada brecha,
Na tua forçada noite escura de agora.
Daí então,
Restará a ti, apenas, abrir os olhos.
Es as cortinas,
E as janelas,
E as portas.
Vive!

(Haverá Dia - WallaceLemos)

domingo, 20 de setembro de 2009

Anjo



Teus olhares me desvendam...

Uma constelação de mistérios.

E me levam, a uma encantadora órbita de prazeres

... incomparáveis.

Fecho os olhos,

Deixo-me perder nesse universo sem fim

Pra encontrar-me,

Logo depois...

A voar nas caudas dos teus cometas mágicos

Como um desbravador alado.

Visito tuas estrelas prediletas,

Teus planetas favoritos

Teus lugares secretos...

E depois mergulho... no infinito desse teu céu.

No profundo das tuas galáxias de sonho e prazer.

A fim de flutuar...

Sob a intensa luz que emana

O alvo luar do teu sorriso de anjo.

Abro os olhos...

E te vejo, a todo tempo:

Perto.

Bem perto... meu anjo.



(Anjo - WallaceLemos)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Fecha os olhos!

Se tudo em volta parece assustador...
Ainda podes fechar os olhos!
E assim... Enxergar teus sonhos.
Realiza teus planos!
Vê!
Mesmo que dentro de você! Mas vê!
A realidade nem sempre é tão real. E, muito menos, eterna ou imutável.
Chora quando tiver de chorar! Deixa correr as lágrimas - sinal que elas precisam de liberdade! Mas nunca, nunca dispense um bom sorriso.
Se nada te fizer sorrir. Inventa!
Ri da nuvem com suas formas engraçadas,
Ri dos carros que buzinam apressados,
Ri das pessoas que caminham sem saber ao certo porque caminham,
Ri de você que num tem de que rir. Mas ri!
Por que rir é uma ótima terapia para a alma.
Quando se deitar, conta carneirinhos. Mas carneirinhos diferentes:
Às vezes brancos,
... Às vezes malhados,
... Às vezes pretos,
... Às vezes sujinhos,
... Às vezes limpos.
Assim você não confunde os carneirinhos e o sono vem.
E quando ele vier. Dorme sem medo. Vai se sentir muito bem ao acordar.
Quando acordar espreguiça forte.
Lave o rosto, ajuda a despertar.
E então, escolha!
Escolha um dia feliz.
Ontem foi ruim. Hoje vai ser bom. Ok?
Se não funcionar nada disso...
A gente tenta diferente amanhã. Prometo!
(Fecha os olhos - WallaceLemos)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Nós e o Amor


Esses sentimentos nos envolvem de forma sobrenatural não é mesmo?
Certas horas... fortes, invencíveis e decididos: Eu quero! Eu posso! Eu vou!
Noutras... frágeis, amedrontados e inseguros: Por quê? Será? E depois?
Complicamos quando podíamos simplificar: “Não tem desculpas!”
Ou acabamos simplificando demais o que naturalmente é um pouco mais complicado: “Por mim tanto faz!”
Medo de errar! Medo de tentar! Vontade louca de tentar e não errar!
Todos nós, um dia já nos sentimos assim. Confusos... paradoxais.
Dispostos a dar o mundo se o tivéssemos, sem pena, sem dó: “Até que a morte nos separe!”
No entanto, às vezes, pouco flexíveis em ceder no pouco, no mínimo: “Odeio que mexa no meu jornal!”
Ahhh... Nossas dissonâncias inexplicáveis!!!!
Às vezes estamos lá em cima: “Ele me amaaa!”
Às vezes lá embaixo...: “Droga, nove horas e ainda não ligou!”
E às vezes, mais embaixo ainda: “Ai que ódiôô!”
Sorrisos, lágrimas... Sorrisos e lágrimas...
Alternâncias entre alegria e tristeza, paz e turbulência, mansidão e agitação, bem-querer e desafeto...
Tudo está previsto! O amor é feito desses paradoxos.
Ou talvez... nós sejamos.
E como seres amantes que somos, incorporamos o amor conformando-o a essa nossa essência natural de guerra e paz. _Quem sabe?
Mas no fim das contas, entre corações feridos, noites mal-dormidas (por prazer ou desprazer), lágrimas, risos, perdas ou ganhos...
Resta-nos a certeza de que, definitivamente, não seríamos mais felizes do que somos, assim, desse jeito:
...Amando.

(Nós e o Amor - WallaceLemos)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Para Ting: O Palco!

O palco é um altar. Lugar de entrega. Lugar de sacrifícios.
Lugar onde despem-se as roupas da realidade em troca de vestes que transcendem o físico, das utopias, das antigas impossilidades que tornam-se, então possíveis.
É lugar pra quem sabe ceder espaço ao sonho e que, sem sombra de dúvida, está a alguns patamares acima nas escadas da sensibilidade.

domingo, 5 de julho de 2009

Sobre a morte...

Preciso morrer.
Esse corpo já carrega cicatrizes demais.
Dores demais.
Peso demais.
E tanto peso tornou-me curvado,
Torto.
Preciso livrar-me desse corpo torto. Definitivamente.
Libertar-me dessa casca desgastada e cansada.
Cansada dos erros,
Cansada do amor barato e suas mentiras,
Cansada das falsas promessas.
Preciso morrer.
Sete palmos de realidade me farão bem.
O silêncio me acalmará os ouvidos do espírito.
A solidão me renovará a alma.
Preciso morrer!
Deixar essa matéria suja.
Pra renascer nova criatura.
Pra reviver felicidade.
Preciso morrer pra me encontrar.
Pois a vida me perdeu de mim.
Preciso morrer...
E ressuscitar numa manhã de domingo.
Sentir o brilho do sol ofuscar-me os olhos.
Encher os pulmões de novos sonhos.
respirar novos ares.
E quem sabe...
A nova vida me seja mais... amena!


(Sobre a morte... - WallaceLemos)

sábado, 6 de junho de 2009

Um dia... Talvez


Me distraio certas vezes
E me perco...
De mim,
Em mim.
Por vezes me acho solto.
Sem chão, sem ar...
Como a flutuar num espaço qualquer de ilusão e sonho.
Gravidade zero.
Se me perco novamente,
É porque o universo não tem fim.
Não há mapas.
Não há bússolas que me valham.
Não há caminhos.
Há o infinito. E só!
Se gravito ou se caio...
Tanto faz.
Ao meu redor apenas o vazio....Silencío.
Meu barulho parece não existir.
Vácuo de vida.
Certas escuridões e certas luzes me ofuscam de igual forma.
Eu posso voar. Mas não tenho escolhas. Só posso voar.
E voar... e voar.
Um dia eu me acho outra vez.
Um dia, terra firme.
Um dia... talvez.

(Um dia... Talvez - WallaceLemos)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Encântico


"Estou de partida. Breve, me mudarei para a curva do teu braço.

Busco a terra sem vento, a mansa terra do teu peito. E a batida surda e quente do magma mais profundo, para embalar o meu sono. Busco a tranqüilidade da enseada. Já conheci as águas que é preciso saber. Fui bem além das colunas de Hércules e há muito descobri que por mais longe o mar, jamais despenca. Sereia, lancei meu canto por entre espumas, encantei marinheiros. E eu própria naveguei, seguindo as estrelas do céu, contando as estrelas do mar, até chegar a portos dos quais nem suspeitava a existência.

Agora é tempo de lançar as tranças na água e deixar que se enlacem nos rochedos, ancorando-me ao meu destino. Escolho o teu lado esquerdo, onde me beija o sol poente. E espero que a tua mão direita amaine as minhas selas. Assim, acima do teu coração, encosto a cabeça. E pequena como um grão, deito raízes. Aprenderei a conhecer-te através da planta dos meus pés, como o cego sabe onde pisa, como o índio conhece a trilha? Se for mansa, a maré das colinas, terei certeza de que dormes, ou pensas em silêncio. Se, de repente, meu solo se encrespar, tangido por um vento só teu, será o frio que te toca. O medo, saberei no tremor subterrâneo. E quando o suor correr farto, enchendo rios sem peixes, ameaçando me levar, será tempo de calor, será o verão cantando na tua pele.

Aprenderei a tatear-te com as mãos, a procurar meus caminhos nos valões dos músculos. Fluirei devagar, dormirei nas axilas. Não preciso de casa. Não preciso de abrigo. A terra da tua carne é quente e nada me ameaça. Posso deitar-me nua, dormir tranqüila, ou ficar acordada, olhando para o alto. O céu é calmo, as nuvens passam, indo a outros lugares. Nenhuma traz a chuva, ou a tempestade. Não preciso de pente, não preciso de panos. O orvalho da tua pele me banha de manhã e a tua respiração arruma os meus cabelos. Só quero um cavalo. Galoparei com ele as dunas do teu corpo, descerei pelos braços, avançarei pelas mãos, arriscando-me à queda nos penhascos dos dedos. Explorarei o teu ventre, matarei a minha sede no poço do teu umbigo. E, armada de desejo, penetrarei na selva dos teus pelos, emaranhada e perfumada noite, delta dos sumos, labirinto que imperioso, me chama e suave, me perde. Só depois, percorridas as pernas, visitados os pés, voltarei corpo acima, ventre, peito, subindo em peregrinação até o pescoço, repousando no vale da omoplata.

Talvez leve um cantil para a dura escalada do teu queixo. Subirei com cuidado, usando como apoio os fios de barba, procurando a caverna das orelhas para repouso e abrigo. Barulho não farei, prometo. Nada que te perturbe. Talvez no dia seguinte, ou mais ainda, passando-se outro dia na difícil subida, eu procure chegar até teus olhos. Se estiverem fechados, sentarei com paciência, esperando o milagre da íris descoberta nascer do olho que se renova a cada despertar, astro de luz, surgindo sob o horizonte da pálpebra. Se estiverem abertos, sentarei à beira deste lago, fonte, olho d'água, encantada com a dança dos reflexos, ilusórios peixes, deslizando suas sombras sob um fundo sem algas. E haverá um momento em que, vencendo o medo, mergulharei na transparência, para nadar em direção ao redemoinho negro da pupila.

A aresta do nariz é perigosa. Eu bem conheço a sua linha sinuosa, sua falsa maciez sobre o duro arcabouço. Não convém que a acompanhe. Seguirei pelo lado, encostando-me às arestas, esgueirando-me para não ser tragada. Não tentarei desvendar o mistério do sopro. À boca, chegarei com respeito. Virei pelo canto, descendo ao lábio inferior, o mais carnudo. Avançarei deitada, rastejando-me de leve na pele úmida, até chegar à borda. E me debruçarei sobre as palavras. Breve me mudo para a curva do teu braço. Não saberei mais de você do que já sei. Nem você saberá mais de mim. Mas talvez assim perto, encostada na raiz do teu ser, eu possa me esquecer de onde começo e me esquecer em ti na minha entrega."

(Encântico - Marina Colassanti)